quarta-feira, 16 de abril de 2014

Petrobras em dois pontos importantes: posicionamento no mercado e Pasadena

Para que o leitor mais cuidadoso formule sua opinião sobre a Petrobras (sem os apupos catastróficos dos oposicionistas ou os febris aplausos dos governistas) seguem, abaixo, posicionamentos de Graça Foster (Presidente da Petrobras) sobre os temas "situação financeira atual e futura" da empresa e "Pasadena". As declarações foram feitas ao Senado, em Audiência Pública, na última terça-feira, 15/04.



Graça compara resultados da Petrobras aos das grandes majors do setor de óleo e gás

"Pelo 22º ano, nós temos descoberto mais do que produzido. Isso é muito significativo em termos de segurança energética e rentabilidade para o Brasil e para a companhia", disse Graça Foster, ao comparar o nosso desempenho ao de outras grandes empresas do setor, conhecidas como "majors". "Temos relação produção/reserva de 20 anos; enquanto companhias como  Exxon, BP, BG, Chevron, Shell têm relação de 15 anos em média", afirmou.

Segundo a presidente Graça, enquanto estas empresas perderam, em média 16% da sua produção de petróleo nos últimos anos, tivemos crescimento de 7%. "Não estou falando de gás, isso é só petróleo", esclareceu. "Nossa produção é crescente, nós vamos atingir os 4,2 milhões de barris de petróleo por dia em 2020", informou. "Se olharmos de 2002 a 2013, a Petrobras teve um crescimento de 34%, são mais 532 mil barris de petróleo por dia, e as outras, as majors, tiveram uma perda de 320 mil barris de petróleo por dia".

Ainda segundo Graça, o petróleo, que é mais valorizado, representa 86% da nossa produção total. Nas demais majors, o percentual é de cerca de 56%, informou.

Em relação ao lucro líquido, comparados os anos de 2012 e 2013, a Petrobras teve ganho de 1%, enquanto a Exxon teve perda de 27%, a Chevron de 18%  e a Shell de 39%.  "Por que essas empresas perderam? Queda de produção, queda de mercado, os custos elevados. Este é um grande problema de todos nós operadores da indústria de petróleo e gás", declarou.

A presidente seguiu explicando que o mercado brasileiro de derivados cresceu 3% entre 2012 e 2013. "Nós temos praticamente 100% desse mercado e, com um pequeno movimento no preço do diesel e da gasolina, temos um grande resultado na companhia. Manter esse mercado é muito importante", disse.
"Na venda de derivados, a Exxon perdeu 5% do seu mercado, a Chevron, 2%, Shell, 1% e a BP perdeu 2%. Elas têm uma grande atividade nos Estados Unidos e na Europa e o mercado desses países reduziu com a crise mundial", informou.

O valor de investimento da Petrobras, de 91 bilhões de dólares nos anos de 2012 e 2013, também é superior ao investido pelas outras companhias, de acordo com a presidente.

"Chamo a atenção para o fato de que em 2014 a nossa dívida para de crescer porque nossa produção de petróleo cresce, nossas duas refinarias vão produzir mais diesel e mais gasolina, e trabalhamos para que haja convergência de preços no Brasil com os preços internacionais", declarou. "Nossa dívida é voltada para o crescimento e em 2015 teremos fluxo de caixa positivo", acrescentou.




Graça explica aquisição da refinaria de Pasadena

Maria das Graças Silva Foster, esclareceu detalhes sobre a aquisição da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Segundo ela, o planejamento da compra foi feito numa época em que era necessário ampliar nosso parque de refino.

Sobre os valores envolvidos no negócio, foram desembolsados US$ 554 milhões com a compra de 100% das ações da PRSI-Refinaria e US$ 341 milhões por 100% das quotas da companhia de trading (comercializadora de petróleo e derivados), totalizando US$ 895 milhões. Adicionalmente, houve o gasto de US$ 354 milhões com juros, empréstimos e garantias, despesas legais e complemento do acordo com a Astra. Desta forma, o total desembolsado com o negócio Pasadena foi de US$ 1.249 milhões.

Graça Foster explicou ainda que a Comissão de Apuração Interna instaurada em março para analisar os processos de compra da refinaria, apurou, até o momento, que a Astra não desembolsou apenas US$ 42,5 milhões pela refinaria, como tem sido noticiado, mas sim um valor estimado em US$ 360 milhões, sendo US$ 248 milhões pela refinaria e estoques mais US$ 112 milhões de investimentos realizados antes da venda à Petrobras.


Cronologia
A presidente apresentou uma cronologia das negociações. Explicou que o Conselho de Administração aprovou em 2006 a compra de 50% de participação em Pasadena, pelo valor de US$ 359 milhões, e que a análise dos dados na época demonstrava que tratava-se de um bom negócio, alinhado ao planejamento estratégico vigente. Graça acrescentou que as margens de refino naquele momento eram altas e que processar petróleo pesado do campo de Marlim e transformá-lo em derivados (produtos de maior valor agregado) permitiria capturar melhores margens, estratégia esta respaldada por duas consultorias de renome. “Pasadena é uma refinaria de 100 mil barris por dia, está localizada num dos principais hubs de petróleo e derivados nos Estados Unidos, um dos maiores mercados mundiais de derivados, está num local onde varias refinarias têm um conjunto de operações, favorecendo essa movimentação de carga e a parceria entre refinadores.”, ressaltou.

Graça confirmou que o resumo executivo apresentado ao Conselho de Administração naquela ocasião não citava as cláusulas de “Put Option” e “Marlim”. “Não havia menção às duas cláusulas, extremamente importantes neste negócio. Não houve citação, nem intenção manifestada, da compra dos 50% remanescentes da refinaria de Pasadena”, esclareceu.

A partir de 2007, houve desentendimentos entre os sócios em relação à gestão da refinaria e, em dezembro daquele ano, firmou-se com a Astra uma carta de intenções para a compra dos outros 50%. Em março de 2008, a diretoria da Petrobras submeteu a proposta de compra ao Conselho de Administração, que não a autorizou. A Astra exerceu sua opção de venda (put option) e assumimos o controle da integralidade da refinaria ainda em 2008. Em 2012, houve uma negociação final entre as partes, classificada pela presidente como “completa e definitiva”.

Desde 2006, ressalvou a presidente, houve diversas alterações no cenário econômico e do mercado de petróleo, tanto brasileiro quanto mundial, como a crise econômica de 2008, que reduziu as margens de refino e o consumo de derivados, e a descoberta do pré-sal, nos levando a rever nossas prioridades. Em março de 2009, as margens de refino caíram por conta da crise. "O consumo de gasolina, que é o que Pasadena produz, nos Estados Unidos, caiu 1 milhão de barris", informou. "Diversas refinarias fecharam". Assim, o negócio originalmente concebido transformou-se em um empreendimento de baixo retorno sobre o capital investido, que totalizou US$ 1.249 milhões. Graça ressaltou, no entanto, que hoje temos um ativo de qualidade, com um parque de refino que opera com segurança, e vem dando resultado positivo neste ano.  “Além da melhor performance operacional, temos o petróleo não convencional, leve, de xisto, que chega à nossa refinaria e se traduz em resultado positivo”, afirmou.




Nenhum comentário:

Postar um comentário