Há temas que pela carga de simbolismo que carregam e, principalmente, devido aos efeitos que projetam sobre o país e as novas gerações merecem e até exigem que nos debrucemos sobre eles em mais de uma oportunidade. Esse é o caso dos acontecimentos recentes que envolvem o presidente João Goulart, o Jango, personagem trágica da nossa história, cujos restos mortais receberam finalmente honras de chefe de Estado, 37 anos depois de sua morte.
Jango foi deposto em 1964 por um golpe de militar quando se preparava para implantar uma série de mudanças, às quais denominou de Reformas de Base. A mais importante era a reforma agrária, que afetaria profundamente a estrutura fundiária no país. O Brasil depende ainda hoje de um modelo excludente de agronegócio, cujos resultados fazem bem à balança comercial, mas não promovem a erradicação da miséria no campo.
Muito se escreveu sobre aquele período, mas pouco se conhece sobre os detalhes dos acontecimentos que precipitaram o golpe. Por isso, a importância histórica e o simbolismo da reunião do Congresso Nacional desta terça-feira, dia 19 de novembro, quando deverá ser anulada a fatídica e ilegal sessão realizada na madrugada de 02 de abril de 1964.
Na ocasião, foi decretada vaga a presidência da República, gesto que abriu o caminho para o golpe, embora fosse do conhecimento de todos que João Goulart, naquele momento, estava em território nacional, em Porto Alegre, na residência oficial do general Ladário Telles, comandante do III Exército. Eu estava lá, e testemunhei a angústia de Jango ao anunciar a decisão de não resistir e rumar para o exílio. Preferiu evitar uma guerra civil e afastar o pretexto que os Estados Unidos esperavam para invadir e se estabelecer com tropas no Brasil. A história começa a ser reescrita, agora com as tintas da verdade.
*Pedro Simon é senador pelo PMDB-RS.
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