FLÁVIO FERREIRA
DE SÃO PAULO
Após uma demora de dois anos e oito meses, o Ministério Público Federal
anunciou ontem que realizará as investigações que a Suíça pediu em 2011
sobre consultores acusados de distribuir propina paga pela multinacional
francesa Alstom a políticos e funcionários públicos de São Paulo.
A decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foi anunciada uma semana após a Folha
informar que as autoridades suíças haviam desistido de esperar pela
ajuda dos colegas brasileiros e tinham arquivado as investigações em
relação a três suspeitos do caso Alstom.
O requerimento da Suíça havia sido recebido pelo procurador da República em São Paulo Rodrigo de Grandis em fevereiro de 2011.
Na semana passada, Grandis afirmou que a solicitação não foi atendida
porque foi guardada por engano em uma pasta de arquivo e ficou esquecida
desde então.
Como a Folha informou ontem, Grandis recebeu pelo menos três
cobranças do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica
Internacional (DRCI), do Ministério da Justiça, para que respondesse ao
pedido.
Segundo a Procuradoria-Geral da República, nesta semana o Ministério
Público da Suíça renovou o pedido de cooperação, após negociação com a
Secretaria de Cooperação Jurídica Internacional do Ministério Público
Federal.
As medidas solicitadas serão realizadas após a indicação de um novo procurador parar tratar da cooperação.
O Ministério Público da Suíça havia solicitado interrogatórios de quatro
suspeitos e a realização de buscas na casa de um deles, o ex-diretor da
estatal CPTM João Roberto Zaniboni, acusado de receber propina da
Alstom entre 1999 e 2002, durante os governos de Mário Covas e Geraldo
Alckmin, do PSDB.
Os procuradores da Suíça também haviam pedido o envio de relatórios da
polícia e laudos produzidos no Brasil sobre a movimentação financeira
dos quatro suspeitos.
Por meio de nota, a Procuradoria-Geral da República disse que não poder
revelar quais providências serão tomadas agora para não alertar os alvos
da investigação.
A procuradoria também informou ter descoberto um erro no andamento do pedido.
Segundo apuração interna determinada por Janot na terça-feira, o
requerimento não passou por um órgão da instituição que acompanha a
colaboração com outros países. Esse setor poderia ter fiscalizado o
cumprimento do pedido, diz a Procuradoria.
O caso levou Janot a determinar um levantamento sobre todos os pedidos
de cooperação que saíram do DRCI para a Procuradoria, bem como a criação
de normas internas para evitar que o problema ocorra novamente.
O caso já levou à abertura de dois processos em relação a Grandis. Um
deles é conduzido pela corregedoria interna da Procuradoria e o outro
foi aberto pela corregedoria do Conselho Nacional do Ministério Público,
órgão responsável pelo controle externo do Ministério Público.
O processos podem resultar em penas que vão desde censura até perda do cargo.
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