Por: Fernanda Nunes
Eletroeletrônicos, lâmpadas, gravatas e guarda-chuvas deixaram de ser fabricados no país. Mas a indústria já fala em reindustrialização
Após décadas de competição com produtos
importados, sobretudo asiáticos, algumas atividades industriais
desapareceram do mapa brasileiro. A lista inclui a produção de bens de
alta tecnologia - como componentes eletroeletrônicos, tais como telas de
computadores e peças para aparelhos telefônicos - e outros nem tanto,
como gravatas e guarda-chuvas.
Desde a década de 90, 230 fábricas de peças de eletroeletrônicos fecharam as portas, informa a Associação Brasileira Elétrica e Eletrônica (Abinee). Assim como três indústrias encerraram a produção de lâmpadas compactas fluorescentes. Outros segmentos não chegaram a sumir, mas reduziram significativamente de tamanho. É o caso dos produtores de tênis esportivos, de roupas de tecido sintético e de equipamentos médicos.
O processo de "desindustrialização" - termo usado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) - atingiu novo patamar em 2011. Parte da indústria parou as máquinas e restringiu-se à distribuição de importados. Mas, com a perspectiva de desvalorização contínua do real ante o dólar em 2013, a própria Federação já vislumbra e inicia uma campanha pela "reindustrialização" e retorno de segmentos extintos.
"Não falamos mais de desindustrialização, mas de reindustrialização , a partir do desenvolvimento tecnológico e ganho de competitividade. O primeiro passo já foi dado, com a desvalorização do real. Se ainda não estamos como patamar desejado, a moeda também já não está sobrevalorizada. Outros fatores que irão contribuir para a reindustrialização estão relacionados ao Custo Brasil. É claro que as medidas mais difíceis não serão tomadas em ano de eleição, mas não tenho dúvida de que a indústria nacional tem base para retomar produções perdidas", afirma o diretor-adjunto de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Tomás Zanotto.
O retrato fiel da desindustrialização é desconhecido. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), assim como entidades representativas da indústria e as dezenas de associações setoriais consultadas informaram não saber exatamente os segmentos extintos nas últimas décadas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram que a participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 17,2% para 13,3%, de 2000 a 2012. Mas a perda de 3,9 pontos percentuais em 12 anos não está no radar.
Uma pista da dimensão do esvaziamento da indústria doméstica está na pauta de importação de bens chineses, principais competidores, no período de janeiro a agosto deste ano. Dos dez produtos mais vendidos ao Brasil, sete são do setor eletroeletrônico.
"A instabilidade do câmbio por um longo período prejudica o investimento", argumenta o economista-chefe da Abinee, Luiz Cezar Rochel. Em sua opinião, mais problemático, no entanto, do que a importação de componentes e a consequente transformação de uma fatia expressiva da indústria nacional em montadora de equipamentos, é a importação direta de bens finais. "No processo de montagem, são empregados muitos trabalhadores, enquanto, na importação do bem acabado a geração de emprego é pífia", diz ele. O economista cita o caso de termômetros utilizados em processos produtivos, como na medição de temperatura em caldeiras, que definitivamente deixaram de ser fabricados no Brasil.
Ainda assim, como a Fiesp, ele aposta na recente valorização do dólar como uma oportunidade para a retomada da produção de bens finais. "Mas dificilmente isso ocorrerá com o segmento de componentes eletroeletrônicos. Pode ser até que aconteça em alguns poucos casos, como no de semicondutores, alvo de incentivo do governo", prevê.
Já a indústria fabricante de lâmpadas tem uma oportunidade com a migração do consumo para a tecnologia de led. Por enquanto, contudo, o que prevalece é o crescimento constante da importação asiática, ressalta o diretor da Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux) Marco Poli. A compra de luminárias, por exemplo, que responde por 61% do setor, passou de US$ 39,40 milhões em 1997, quando iniciou a competição com os importados, para US$ 220 milhões em 2012.
Para se adequar aos novos tempos, algumas empresas se veem obrigadas à reestruturação interna e de estratégia de mercado. Para evitar fechar as portas, a Pumar, uma fabricante de perfil familiar presente no mercado há 86 anos, fugiu da competição com os guarda-chuvas chineses para focar em produtos semelhantes, porém voltados ao segmento corporativo. Durante gerações, a empresa voltou-se ao varejo popular, mas, desde que a competição se acirrou, a saída foi migrar para o segmento corporativo, passando a produzir ombrelones e tendas para grandes clientes. Como resultado, o número de empregados despencou de 600 funcionários para 78, em duas décadas. E, mesmo que o câmbio favoreça daqui para frente, "pouca diferença fará, diante da competição com os baixos custos chineses", acredita a presidente da empresa, Lúcia Pumar Cantini.
PAUTA DE IMPORTAÇÃO DA CHINA DE JANEIRO A AGOSTO DE 2013
1º Outras partes para aparelhos receptores de rádio difusão e televisão
2º Outras partes para aparelhos de telefonia/telegrafia
3º Tela para microcomputadores portáteis, policromática
4º Terminais portáteis de telefonia celular
5º Outros fornos não elet. para ustulação de minérios/metais
6º Microprocessadores mont.p/ superf. (SMD)
7º Outras partes e acessórios para máquinas automat. proc. dados
8º Glifosato e seu sal de monoisopropilamina
9º Lâmpadas/tubos descarga, fluorescente, de catodo quente
10º Circuitos impr. c/ comp. elétrico/eletrônicos montados
Desde a década de 90, 230 fábricas de peças de eletroeletrônicos fecharam as portas, informa a Associação Brasileira Elétrica e Eletrônica (Abinee). Assim como três indústrias encerraram a produção de lâmpadas compactas fluorescentes. Outros segmentos não chegaram a sumir, mas reduziram significativamente de tamanho. É o caso dos produtores de tênis esportivos, de roupas de tecido sintético e de equipamentos médicos.
O processo de "desindustrialização" - termo usado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) - atingiu novo patamar em 2011. Parte da indústria parou as máquinas e restringiu-se à distribuição de importados. Mas, com a perspectiva de desvalorização contínua do real ante o dólar em 2013, a própria Federação já vislumbra e inicia uma campanha pela "reindustrialização" e retorno de segmentos extintos.
"Não falamos mais de desindustrialização, mas de reindustrialização , a partir do desenvolvimento tecnológico e ganho de competitividade. O primeiro passo já foi dado, com a desvalorização do real. Se ainda não estamos como patamar desejado, a moeda também já não está sobrevalorizada. Outros fatores que irão contribuir para a reindustrialização estão relacionados ao Custo Brasil. É claro que as medidas mais difíceis não serão tomadas em ano de eleição, mas não tenho dúvida de que a indústria nacional tem base para retomar produções perdidas", afirma o diretor-adjunto de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Fiesp, Tomás Zanotto.
O retrato fiel da desindustrialização é desconhecido. O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), assim como entidades representativas da indústria e as dezenas de associações setoriais consultadas informaram não saber exatamente os segmentos extintos nas últimas décadas. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram que a participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 17,2% para 13,3%, de 2000 a 2012. Mas a perda de 3,9 pontos percentuais em 12 anos não está no radar.
Uma pista da dimensão do esvaziamento da indústria doméstica está na pauta de importação de bens chineses, principais competidores, no período de janeiro a agosto deste ano. Dos dez produtos mais vendidos ao Brasil, sete são do setor eletroeletrônico.
"A instabilidade do câmbio por um longo período prejudica o investimento", argumenta o economista-chefe da Abinee, Luiz Cezar Rochel. Em sua opinião, mais problemático, no entanto, do que a importação de componentes e a consequente transformação de uma fatia expressiva da indústria nacional em montadora de equipamentos, é a importação direta de bens finais. "No processo de montagem, são empregados muitos trabalhadores, enquanto, na importação do bem acabado a geração de emprego é pífia", diz ele. O economista cita o caso de termômetros utilizados em processos produtivos, como na medição de temperatura em caldeiras, que definitivamente deixaram de ser fabricados no Brasil.
Ainda assim, como a Fiesp, ele aposta na recente valorização do dólar como uma oportunidade para a retomada da produção de bens finais. "Mas dificilmente isso ocorrerá com o segmento de componentes eletroeletrônicos. Pode ser até que aconteça em alguns poucos casos, como no de semicondutores, alvo de incentivo do governo", prevê.
Já a indústria fabricante de lâmpadas tem uma oportunidade com a migração do consumo para a tecnologia de led. Por enquanto, contudo, o que prevalece é o crescimento constante da importação asiática, ressalta o diretor da Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux) Marco Poli. A compra de luminárias, por exemplo, que responde por 61% do setor, passou de US$ 39,40 milhões em 1997, quando iniciou a competição com os importados, para US$ 220 milhões em 2012.
Para se adequar aos novos tempos, algumas empresas se veem obrigadas à reestruturação interna e de estratégia de mercado. Para evitar fechar as portas, a Pumar, uma fabricante de perfil familiar presente no mercado há 86 anos, fugiu da competição com os guarda-chuvas chineses para focar em produtos semelhantes, porém voltados ao segmento corporativo. Durante gerações, a empresa voltou-se ao varejo popular, mas, desde que a competição se acirrou, a saída foi migrar para o segmento corporativo, passando a produzir ombrelones e tendas para grandes clientes. Como resultado, o número de empregados despencou de 600 funcionários para 78, em duas décadas. E, mesmo que o câmbio favoreça daqui para frente, "pouca diferença fará, diante da competição com os baixos custos chineses", acredita a presidente da empresa, Lúcia Pumar Cantini.
PAUTA DE IMPORTAÇÃO DA CHINA DE JANEIRO A AGOSTO DE 2013
1º Outras partes para aparelhos receptores de rádio difusão e televisão
2º Outras partes para aparelhos de telefonia/telegrafia
3º Tela para microcomputadores portáteis, policromática
4º Terminais portáteis de telefonia celular
5º Outros fornos não elet. para ustulação de minérios/metais
6º Microprocessadores mont.p/ superf. (SMD)
7º Outras partes e acessórios para máquinas automat. proc. dados
8º Glifosato e seu sal de monoisopropilamina
9º Lâmpadas/tubos descarga, fluorescente, de catodo quente
10º Circuitos impr. c/ comp. elétrico/eletrônicos montados
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