Jornalista: Flávia Milhorance
Cientistas registram a atividade cerebral de camundongos com sintomas da doença.
Um experimento de cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, poderá abrir frente para novos tratamentos da esquizofrenia, um transtorno mental que afeta 1% da população mundial.
Pela primeira vez, os pesquisadores conseguiram mapear a atividade cerebral que parece produzir a desorganização mental característica da doença, geralmente também acompanhada de delírios e alucinações.
— Nossos resultados não são práticos no momento, mas certamente irão proporcionar uma nova forma de olhar para o mecanismo de ação dos atuais tratamentos e medicamentos antipsicóticos e levar a uma nova intervenção terapêutica — afirmou ao GLOBO um dos coordenadores da pesquisa, o professor Junghyup Suh.
Para realizar o teste, pesquisadores do Instituto de Ciência do Cérebro Riken do MIT gravaram as oscilações das ondas cerebrais do hipocampo de camundongos, entre eles, alguns geneticamente modificados para apresentar sintomas semelhantes à esquizofrenia.
Estes não produziam uma proteína chamada calcineurina, uma vez que mutações no gene que produz esta substância já tinha sido percebida em pacientes com o transtorno mental.
Os camundongos com proteína bloqueada tendiam a ter perda de memória de curto prazo, assim como comportamento social anormal e déficit de atenção.
DESORGANIZAÇÃO MENTAL EM ESQUIZOFRÊNICOS
Os roedores foram colocados num labirinto. No período de descanso, o cérebro dos animais normais ativava as células de localização do hipocampo na mesma ordem em que eles tinham percorrido o trajeto imposto.
Aqueles com o transtorno, ao contrário, ativavam todas as células de localização ao mesmo tempo e em níveis anormais.
Isto sugere, segundo os cientistas, que eles têm uma desorganização neuronal que os impede de repetir mentalmente uma rota que eles tinham acabado de fazer.
O artigo publicado na “Neuron” exemplifica que em camundongos normais o papel da calcineurina é reprimir a conexão entre os neurônios, as sinapses, no hipocampo.
Em roedores sem a calcineurina, um fenômeno conhecido como potenciação de longo prazo (aumento rápido da resposta entre as sinapses) se tornava mais prevalente.
Os pesquisadores acreditam que a atividade anormal vista no hipocampo pode ocorrer por uma interrupção da chamada rede de modo padrão do cérebro, uma rede de comunicação que liga o hipocampo, o córtex pré-frontal e outras partes do córtex.
Esta rede é mais ativa quando o indivíduo (ou no caso o roedor) está descansando entre tarefas determinadas.
Quando o cérebro foca numa atividade, a rede de modo padrão é desligada.
Entretanto, esta rede é hiperativa em esquizofrênicos tanto antes quanto durante as tarefas que requerem foco.
Eles geralmente não desempenham bem estas tarefas.
— A possível terapia teria uma abordagem neurobiológica para diminuir a atividade cerebral na rede de modo padrão, para, assim, aliviar os sintomas e até curar o transtorno mental — acrescentou o pesquisador. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a esquizofrenia afeta cerca de 24 milhões de pessoas no mundo.
O transtorno é tratável, mas a terapia é mais eficiente se ocorrer no estágio inicial.
Ele acomete principalmente jovens do sexo masculino.
Mais de 50% dos esquizofrênicos, entretanto, não recebem os cuidados necessários, e mais de 90% destes estão em países em desenvolvimento, como o Brasil.
Tema que inspira uma série de filmes e livros, a esquizofrenia é conhecida de boa parte da população, mas cujos avanços não acompanham sua popularidade.
Aqueles que sofriam do transtorno já foram tachados de possuídos por demônios, eram temidos e exilados.
Apenas nos últimos 60 anos é que vieram os maiores progressos, com a chegada dos medicamentos anti-psicóticos.
A própria equipe que realizou o experimento no MIT vem, há pelo menos uma década, investigando possibilidades de tratamento.
Em 2003, o grupo conseguiu mostrar que pacientes com esquizofrenia tinham mutações no gene responsável pela produção da calcineurina.
Este não é, no entanto, o único a influenciar no aparecimento da doença psiquiátrica.
— Na verdade, há vários genes suscetíveis à esquizofrenia, já que se trata de um transtorno mental de genes múltiplos que podem, também, ser afetados pelo meio ambiente.
É difícil afirmar que um gene é mais importante do que outros.
Também estão entre eles: Catecol O-Metiltransferase (COMT), Neurogulin 1 (NRG1) e proteína 1 interrompida na esquizofrenia (DISC1).
Quero ressaltar, ainda assim, que nenhum dos estudos chegou a investigar as mudanças ou anormalidades no processamento da informação numa única célula ou num circuito como fizemos nesta pesquisa — defendeu Suh.
Um experimento de cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, poderá abrir frente para novos tratamentos da esquizofrenia, um transtorno mental que afeta 1% da população mundial.
Pela primeira vez, os pesquisadores conseguiram mapear a atividade cerebral que parece produzir a desorganização mental característica da doença, geralmente também acompanhada de delírios e alucinações.
— Nossos resultados não são práticos no momento, mas certamente irão proporcionar uma nova forma de olhar para o mecanismo de ação dos atuais tratamentos e medicamentos antipsicóticos e levar a uma nova intervenção terapêutica — afirmou ao GLOBO um dos coordenadores da pesquisa, o professor Junghyup Suh.
Para realizar o teste, pesquisadores do Instituto de Ciência do Cérebro Riken do MIT gravaram as oscilações das ondas cerebrais do hipocampo de camundongos, entre eles, alguns geneticamente modificados para apresentar sintomas semelhantes à esquizofrenia.
Estes não produziam uma proteína chamada calcineurina, uma vez que mutações no gene que produz esta substância já tinha sido percebida em pacientes com o transtorno mental.
Os camundongos com proteína bloqueada tendiam a ter perda de memória de curto prazo, assim como comportamento social anormal e déficit de atenção.
DESORGANIZAÇÃO MENTAL EM ESQUIZOFRÊNICOS
Os roedores foram colocados num labirinto. No período de descanso, o cérebro dos animais normais ativava as células de localização do hipocampo na mesma ordem em que eles tinham percorrido o trajeto imposto.
Aqueles com o transtorno, ao contrário, ativavam todas as células de localização ao mesmo tempo e em níveis anormais.
Isto sugere, segundo os cientistas, que eles têm uma desorganização neuronal que os impede de repetir mentalmente uma rota que eles tinham acabado de fazer.
O artigo publicado na “Neuron” exemplifica que em camundongos normais o papel da calcineurina é reprimir a conexão entre os neurônios, as sinapses, no hipocampo.
Em roedores sem a calcineurina, um fenômeno conhecido como potenciação de longo prazo (aumento rápido da resposta entre as sinapses) se tornava mais prevalente.
Os pesquisadores acreditam que a atividade anormal vista no hipocampo pode ocorrer por uma interrupção da chamada rede de modo padrão do cérebro, uma rede de comunicação que liga o hipocampo, o córtex pré-frontal e outras partes do córtex.
Esta rede é mais ativa quando o indivíduo (ou no caso o roedor) está descansando entre tarefas determinadas.
Quando o cérebro foca numa atividade, a rede de modo padrão é desligada.
Entretanto, esta rede é hiperativa em esquizofrênicos tanto antes quanto durante as tarefas que requerem foco.
Eles geralmente não desempenham bem estas tarefas.
— A possível terapia teria uma abordagem neurobiológica para diminuir a atividade cerebral na rede de modo padrão, para, assim, aliviar os sintomas e até curar o transtorno mental — acrescentou o pesquisador. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a esquizofrenia afeta cerca de 24 milhões de pessoas no mundo.
O transtorno é tratável, mas a terapia é mais eficiente se ocorrer no estágio inicial.
Ele acomete principalmente jovens do sexo masculino.
Mais de 50% dos esquizofrênicos, entretanto, não recebem os cuidados necessários, e mais de 90% destes estão em países em desenvolvimento, como o Brasil.
Tema que inspira uma série de filmes e livros, a esquizofrenia é conhecida de boa parte da população, mas cujos avanços não acompanham sua popularidade.
Aqueles que sofriam do transtorno já foram tachados de possuídos por demônios, eram temidos e exilados.
Apenas nos últimos 60 anos é que vieram os maiores progressos, com a chegada dos medicamentos anti-psicóticos.
A própria equipe que realizou o experimento no MIT vem, há pelo menos uma década, investigando possibilidades de tratamento.
Em 2003, o grupo conseguiu mostrar que pacientes com esquizofrenia tinham mutações no gene responsável pela produção da calcineurina.
Este não é, no entanto, o único a influenciar no aparecimento da doença psiquiátrica.
— Na verdade, há vários genes suscetíveis à esquizofrenia, já que se trata de um transtorno mental de genes múltiplos que podem, também, ser afetados pelo meio ambiente.
É difícil afirmar que um gene é mais importante do que outros.
Também estão entre eles: Catecol O-Metiltransferase (COMT), Neurogulin 1 (NRG1) e proteína 1 interrompida na esquizofrenia (DISC1).
Quero ressaltar, ainda assim, que nenhum dos estudos chegou a investigar as mudanças ou anormalidades no processamento da informação numa única célula ou num circuito como fizemos nesta pesquisa — defendeu Suh.
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