MAIS PODEROSOS DO QUE NUNCA

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Super-heróis também envelhecem, mas não perdem seus superpoderes. A idade parece ter até contribuído com alguns deles. Mais fortes do que nunca, os supervovôs do rock brasileiro fizeram a alegria de toda uma nova geração (e da antiga também) com uma demonstração de força inacreditável. O dia 12 de outubro de 2013 é mais um que ficará guardado na história. Foi quando os Mutantes se reuniram mais uma vez para salvar o dia e tocar o memorável álbum Tudo Foi Feito Pelo Sol.

O Sesc Palladium, na capital mineira, ficou lotado para receber Sérgio Dias (vocal e guitarra), Túlio Mourão (teclados, sintetizadores e moog), Antônio Pedro (baixo e vocal) e Rui Mota (bateria). Dos 1.200 pagantes, a maioria era de jovens que não chegavam aos 30 e que sequer pensavam em nascer quando um dos álbuns mais clássicos do rock brasileiro foi lançado, em 1974.

O show estava marcado para as 21 horas. Quase que pontualmente, as cortinas se abriram e o público foi presenteado com bomba logo de cara: Deixe Entrar Um Pouco D’água no Quintal. Os que ainda estavam de fora se agitaram e se apressaram para ocupar logo seus lugares. Quem já estava devidamente sentado pode contemplar um cenário magnífico, porém simples, e um som afinadíssimo. Depois de colocarem o queixo no lugar, todos ecoaram juntos um grito de entusiasmo e felicidade, retribuído logo por Sérgio Dias, que apresentou a banda.

Corredores foram ocupados por quem queria ficar mais perto do palco e vários fãs ficaram em pé nas laterais a fim de não perder nenhum detalhe. A tranquilidade reinou nas duas músicas seguintes (Pitágoras e Desanuviar), até que a introdução de Eu Só Penso Em Te Ajudar inquietou metade do público. Uma onda de pessoas saiu da parte detrás do teatro e quebrou na frente do palco, ocupando todo o espaço livre diante das primeiras poltronas. No início, quem havia pagado mais caro pelo lugar privilegiado se irritou e pediu o fim da agitação, mas logo os ânimos se normalizaram e todo o Sesc estava de pé contemplando o solo de Sérgio Dias e Túlio Mourão. No entanto, finalizada a canção, nenhum dos “invasores” voltou para seu lugar de origem, dando um novo ar ao ambiente fechado no centro de Belo Horizonte.

A agitação pareceu ter animado ainda mais os músicos, que começaram a interagir melhor no palco. Teclado e guitarra fizeram um casamento perfeito, o baterista não perdeu um tempo e o baixo segurou bonito as melodias. Os backing vocals fizeram um show a parte. Afinadíssimos, conseguiram acompanhar Sérgio Dias nos tons mais altos e nos mais baixos. Corresponderam a altura os poderosos Mutantes.

O público não parou um minuto. Um fã invadiu o palco e reverenciou os artistas diante de um LP original do espetáculo refeito na íntegra naquele dia. Provavelmente o disco foi herdado de seu pai ou de algum outro parente. O jovem não passava dos 25 anos e com certeza conhecia bem o repertório dos supervovôs. A tristeza só apareceu diante da positividade do “Tudo Foi Feito Pelo Sol” quando foi anunciada a “saideira”. A faixa título do álbum finalizava o show. Abraçados, os músicos se aproximaram da plateia e deixaram o palco enquanto um coro ecoava alto pelo teatro: Mutantes, Mutantes, Mutantes...

O efeito da despedida durou pouco. Logo ficou claro que os Mutantes voltariam para mais uma palinha. Entraram primeiro Sérgio Dias e Tulio Mourão. Em seguida vieram Antônio e Rui. Para a surpresa de todos, fizeram mais uma apresentação na íntegra. Tocaram as três músicas do LP compacto “Cavaleiros Negros”: Tudo Bem; Balada do Amigo; e a canção que intitula o disco. Para fechar, Sérgio Dias anunciou mais um presente. Mandou novamente Deixe Entrar Um Pouco D’água no Quintal para quem não conseguiu ver as cortinas se abrirem no início daquela noite inesquecível.